A Assembleia de Deus, a maior denominação pentecostal do Brasil, enfrenta uma série de disputas internas que expõem fragilidades estruturais e pastorais. A luta pelo poder, principalmente em grandes igrejas e convenções, tem resultado em divisões, escândalos e crises de liderança que ameaçam a estabilidade da instituição centenária.
O caso mais recente ocorreu na Assembleia de Deus de Santo André, após a morte do pastor Silas Josué em dezembro de 2024. A sucessão pastoral foi definida com a posse de seu genro, pastor Leandro Augusto dos Santos, uma decisão baseada em uma alteração estatutária realizada um ano antes do falecimento de Silas. No entanto, muitos membros da igreja afirmam que não foram consultados e exigem um processo eleitoral para a escolha do novo líder. A insatisfação cresceu e levou a uma mobilização de fiéis que reivindicam maior participação na definição dos rumos da igreja.
Não é um caso isolado. Em outras regiões do país, disputas similares estão em curso, chamando a atenção da mídia e gerando debates sobre suas causas. A emancipação da CONFRADESPA no sul do Pará e a saída de alguns campos da AD COMADESMA no sul do Maranhão também são exemplos recentes da fragmentação dentro da estrutura assembleiana.
Para o teólogo e pastor José Gonçalves, que analisou essas disputas nas redes sociais, os conflitos revelam problemas mais profundos. Ele critica a permanência prolongada de líderes no poder, o que desvia o foco pastoral e os transforma em chefes autoritários, ou mesmo déspotas. “O problema das igrejas são os pastores”, disse Gonçalves, enfatizando que muitos líderes passaram a enxergar suas posições como cargos vitalícios, distanciando-se dos princípios originais das Assembleias de Deus, estabelecidos por pioneiros como Gunnar Vingren e William H. Durham.
A cultura do carreirismo dentro das convenções é outro ponto criticado pelo pastor. Ele argumenta que as igrejas passaram a ser vistas como empresas e os pastores como executivos. “No universo convencional, a coisa segue a mesma linha. Daí a briga para se pastorear uma grande igreja e, a todo custo, se manter no topo – na presidência de uma Convenção”, pontuou. Esse comportamento tem levado muitos líderes a se envolverem na política institucional e partidária, resultando em escândalos que enfraquecem a credibilidade da denominação.
O embate entre liderança e membros, entre centralização e democracia, revela uma Assembleia de Deus em ebulição. As próximas movimentações dessas disputas definirão se a denominação seguirá o caminho da hierarquização e concentração de poder ou se passará por uma reforma estrutural para dar mais voz aos fiéis. O futuro da maior igreja pentecostal do Brasil está em jogo.
